sexta-feira, 20 de junho de 2014

MÁRIO CABRAL- POETA HOMENAGEADO NO X PRÊMIO "TOBIAS BARRETO" DE POESIA

     MÁRIO CABRAL     Poeta homenageado no X PRÊMIO TOBIAS BARRETO DE POESIA

Intelectual sergipano nascido em Aracaju, em 26 de março de 1914, reuniu numa seleta parte de sua poesia.
 Mário Cabral, intelectual sergipano nascido em Aracaju, em 26 de março de 1914, reuniu numa seleta parte de sua poesia, oferecendo aos leitores uma rica e antológica visão de uma arte que tem, nos últimos tempos, perdido espaço na literatura brasileira. Múltiplo no seu fazer literário, como dele disse o romancista e crítico sergipano Armindo Pereira, Mário Cabral esbanja vitalidade na ante sala dos seus 95 anos, como um dos grandes nomes que o pequeno Sergipe deu ao Brasil. 


Um pequeno apanhado de opiniões, assinadas por Jorge Amado, José Lins do Rego, Pedro Calmon, Paulo Carvalho-Neto, Armindo Pereira, Gilberto Amado, citadas na segunda orelha do novo livro, conferem à obra de Mário Cabral uma aceitação e um elogio sincero, como uma fortuna crítica consagradora, atualizada pelo correto texto de Wagner da Silva Ribeiro prefaciando Seleções. Mais do que apontar as qualidades estéticas do livro, Wagner Ribeiro reapresenta o autor aos brasileiros e muito especialmente aos sergipanos, oferecendo à bibliografia de Mário Cabral uma contribuição de excelência.
Um traço empolgante da biografia de Mário Cabral é seu apego a Aracaju, aos escritores sergipanos, a tudo o que tem relação com Sergipe.

Fonte de pesquisa: texto de Luis Antonio Barreto




domingo, 8 de junho de 2014

PAULO LEMINSK é um dos homenageados do PRÊMIO TOBIAS BARRETO DE POESIA

PAULO LEMINSK é um dos homenageados do PRÊMIO TOBIAS BARRETO DE POESIA
Filho de Paulo Leminski II e Áurea Pereira Mendes. Mestiço de pai polonês com mãe negra, Paulo Leminski foi um filho que sempre chamou a atenção por sua intelectualidade, cultura e genialidade. Estava sempre à beira de uma explosão e assim produziu muito. É dono de uma extensa e relevante obra. Desde muito cedo, Leminski inventou um jeito próprio de escrever poesia, preferindo poemas breves, muitas vezes fazendo haicais, trocadilhos, ou brincando com ditados franceses.
Paulo Leminski foi um estudioso da língua e cultura japonesas e publicou em 1983 uma biografia de Bashô. Sua obra literária tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos dos últimos 20 anos.
Morreu em 7 de junho de 1989, em consequência do agravamento de uma cirrose hepática que o acompanhou por vários anos.


 Sintonia para pressa e presságio
Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.

 Não discuto
não discuto
com o destino
o que pintara
eu assino

 A lua no cinema
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!


 Razão de ser
Escrevo. E pronto.

Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?


Dor elegante
Um homem com uma dor

É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra


Bem no fundo
No fundo, no fundo,

bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.


Por um lindésimo de segundo
Paulo Leminski
Tudo em mim 

anda a mil
 tudo assim
 tudo por um fio
 tudo feito
 tudo estivesse no cio
 tudo pisando macio
 tudo psiu 
tudo em minha volta 
anda às tontas
 como se as coisas fossem 
todas afinal de contas.


Na minha a tua ferida
Paulo Leminski
Essa é a vida que eu quero, querida

 encostar na minha
 a tua ferida. 
 

Esta vida é uma viagem
Paulo Leminski

Esta vida é uma viagem

pena  eu estar
só de passagem. 

segunda-feira, 2 de junho de 2014

POETA SERGIPANO "JEOVÁ SANTANA" NO COLÉGIO ESTADUAL "TOBIAS BARRETO"

O "IX PRÊMIO TOBIAS BARRETO DE POESIA" homenageou o escritor Jeová Santana. Os alunos tiveram a oportunidade de conhecer um pouco de sua biografia, de suas poesias e conversar com o escritor, que gentilmente partilhou um pouco de sua história e conhecimentos com os alunos.  
 ENTREVISTA FEITA PELOS ALUNOS AO ESCRITOR JEOVÁ SANTANA
  1. Como foi sua infância? Desde pequeno você queria ser poeta?

A minha infância foi em Aracaju, na rua, nos campinhos de  futebol, subindo em árvores, brincando de bola de gude, pembarra, manja, esconde-esconde. Sempre fui ruim em tudo, menos no futebol. Nele fui mais longe: ocupei o segundo quadro do “glorioso” Náutico Futebol Clube, do bairro Santos Dumont. A primeira lembrança de criação com a palavra vem de  uma paródia da música “Toró de lágrimas” da dupla Antonio Carlos e Jocafi:  “Toró de lágrimas/Foi o retrato doído que você deixou/Foi um momento de sede que a fonte secou”, Na minha versão: “Toró de chuva/ (...) tive uma dor de barriga/e tomei Anador”. Escrever mesmo só mais tarde, no antigo “1º. Grau”, quando me deparei, na biblioteca da Colégio  Olavo Bilac com o  poema “Crepúsculo de Outono”,  de Manuel Bandeira”.
2. Por que você resolveu ser poeta? Com quantos anos você escreveu sua primeira poesia?  Como seus pais reagiram? Eles te apoiaram?


         Meu pai gostava de ler jornal. Um dia ele me  deu uma definição de poesia que esqueci: ”Esse negócio de poesia parece uma pessoa falando sozinha no meio da rua.” É isso mesmo, é a imagem de uma pessoa voltada para si, só ela sabe de sua “viagem”. Ninguém consegue entendê-la. Entendo isso como uma metáfora do empobrecimento que acomete a poesia quando tentamos  explicá-la.

3. Existe alguém que te influenciou a escrever poemas? Hoje como grande poeta, você agradece especialmente a alguém por te apoiar o tempo todo? Quem?

Não sou um grande poeta, tenho só 1,78. O grande incentivador é a vida foi, é e continuará sendo a vida.

4.Como foi que você aprendeu a fazer poesia? Tem um momento certo que você faz poesia ou você faz em qualquer momento?

          Não sei se aprendi a fazer poesia. Considero-me um aprendiz em relação a esta arte que tem mais de quatro mil anos. Quanto ao ato de  escrever, não há fórmula. No primeiro momento pode ser mesa de bar, sala de espera, avião etc. Depois reescrevo. Para criar, não preciso  estar  isolado do mundo.
5. Você já sofreu algum tipo de preconceito por causa da profissão de poeta? Quando você se apresentou para a família de alguma namorada rolou alguma pergunta sarcástica por você ser poeta?

Quando a gente se apresenta não diz que é poeta, pois viver só de palavras não é possível. Eu tive uma recusa inicial, por parte de uma irmã de uma namorada, por morar no Santos Dumont. Depois que ela soube do professor e do escritor, mudou de atitude. Inclusive foi ao lançamento do primeiro de contos, Dentro da casca em 1993.
6.  Você já escreveu alguma poesia baseado no que você viveu? Você já se inspirou em algum amor que te fez sofrer? Você já escreveu uma poesia para uma pessoa? Qual a sensação? Para escrever precisa de sentimento?

Sim,  para tudo na vida é preciso ter sentimento. O cotidiano e  a vida inspiram. A vida é maior que a poesia. 

7.  Em quê você se inspirou para escrever o “Poeminha do desespero” e “A Ponte do Imperador”?

A Ponte do Imperador é um “marco da engenharia”, pois é um ancoradouro, ou seja,  liga o nada ao nada. O bacana é que ela está na  rua mais bonita do mundo, na minha modesta opinião, que é a rua da Frente. O “Poeminha do desespero” é dedicado aos sofrimentos do amor, às mil formas de querer  estar perto de uma pessoa desejada.

8. Sobre o quê você mais gosta de escrever?

Não tenho preferência. Desafio é escrever para criança. O que me toca vou escrevendo.

9.  Como é a vida de poeta?  Dá dinheiro? Se  o senhor não fosse poeta o que seria? Como você leva a vida? Qual o seu maior sonho?

          Não sou poeta, sou professor.
10.  O que te inspira? Qual o ambiente que mais te inspira? Como você tem criatividade para escrever poesia  e fazer um livro?  Você tem dificuldade para fazer um poema? Os poemas que você faz são com palavras do dia a dia?Quantas  você  já escreveu?

Poesia é diferente de poema. Se eu li e não me tocou só há poema. A poesia está no texto, na rua, no batom. Não  está só no verso. Está em qualquer ambiente. Tudo me inspira.  Já publiquei três livros de conto. Em 2012 publiquei meu primeiro livro de poemas.
11. Quando você publicou seu primeiro livro? É difícil fazer um livro de poesia? Quais as dificuldades que você teve para publicar um livro? É difícil ser um poeta famoso? Qual o momento mais difícil e sua carreira? Você tem apoio no seu trabalho?

Publicar livro não é fácil. No primeiro tive a sorte de receber “menção honrosa” no Concurso Núbias de Contos promovido pela extinta Fundação Estadual de Cultura; no segundo houve o apoio do SESC/SE.  Mas entrei com metade da grana para a edição; o terceiro foi bancado pelo Banco do Nordeste, pois foi escolhido num edital para a cultura. Nesse caso,  também tive que desembolsar algum por que devido aos dispêndios com impostos não sobrou o valor ideal para publicar mil exemplares.
12. Qual o seu livro mais famoso? Quais são as vantagens de ser um poeta?

     Não sou famoso. Minha mãe é mais famosa  que eu na rua Minervina Barros, no Santos Dumont.

13.  Você gosta de ler? Que tipo de livro? Quando você era criança e adolescente já gostava de ler?

Há três verbos que não se  pode colocar no imperativo: amar, morrer e ler. Desde que me entendo por gente ando com livro debaixo dos braços. Na hora do vestibular lembrei que, quem gosta de ler, podia ser professor.  

14. Na sua opinião, o que você acha da poesia nas escolas? E  o que você sente ao ver jovens se inspirando em você e escrevendo poemas?


“Atesto para devidos fins/ que a poesia não está morta/apesar dos inimigos de planta/a escola, a Xuxa, o Domingão do Faustão. A escola.  Infelizmente. mais atrapalha que ajuda a poesia.    Poesia é para ler e sentir,  não para explicar. A gente conta com poucas pessoas para levar a poesia adiante.